quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Canoeiro
















Ô, meu canoeiro!
Se no vínculo das águas no remanso das pedras rasas
as águas ainda relincham suas éguas na jaula
como se chovessem palmas,
acalma teu coração!
O teu passatempo favorito de olhar a lagoa
com olhos de quem anda à toa
perde o sentido porque possuis um rio.
Viaja então nele, canoeiro!
Dissolve o passado morto,
transformando as rotas nervosas em coisas ociosas.
O tecido do ócio é feito do linho do esquecimento
e, por isso, sempre traz contentamento.

Ao saíres da casa cedo, canoeiro,
deixa que a manhã te reserve algum segredo
e que a surpresa da romã desperte aos poucos
algum ouvido mouco para o colorido devido.

Leva a tua canoa e a tua casa sem medo
por entre as pessoas porque o rio é imenso,
na dimensão do próprio tempo.
Compartilha com elas todas as tuas coisas boas,
porque tua canoa é um presente de navegar nas enchentes
da multidão de gentes que caminha sonâmbula.

Apesar da neblina esparsa,
nunca esqueças em tua gôndola
as borboletas acrobatas
e as garças que enfeitam a vida.

Distribui as belezas do teu coração
no sonho de unir ombro a ombro
e encurtar todas as ilhas
porque teu título de canoeiro é o mesmo de
cada ser vivente que conduz uma canoa.

Assim, o teu dia se tornará modelável em pedra-sabão
no canto açulado de um azulão
e com a alegre algazarra das maritacas
vinda da mata cerrada e isso,
com certeza, contagiará outras almas.




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