segunda-feira, 14 de julho de 2014

Apostolado de gafanhoto















Aquela sepultura em forma de igrejinha é do João:
João Cabisbaixo, que andava com a enxada
e a garrafa de café debaixo do braço.
A flor do seu destino encheu-se de ímpeto e juntou-se
ao zumbido das colmeias.
Juntou-se aos gafanhotos desbravadores de pios
de passarinhos, que fazem seu apostolado andando
léguas e mais léguas.

Fez da longa caminhada o império de protestos
pela causa das levas de sem-terras que andam feito pétalas
e que são fagulhas de flores com olhar de nuvem.
Que erguem quiosques escuros à beira da rodovia,
prefigurando a luta na disputa gritada.
E assim, desde os recantos longínquos, evoluiu
o seu grande sonho por uma nesga de terra abandonada.
Sonho de revolução na escassez da herança deserdada,
na esperança e na presunção de quem golpeou
a enxada com a vida cabisbaixa.
Combateu seu bom combate, fazendo daquela andança
o seu teor e o seu tear.
Do litígio fronteiriço fustigado, dos infortúnios
por um pedaço de paraíso com feijão, cana  e mandioca,
veio a morte, com a sua inócua razão.
Agora, esta igreja caiada de cal azul aguado
e um epitáfio nos dizeres de um sonhador que, em liturgia,
acabou fazendo jus a atenção de um renomado pistoleiro:
“Fiz, finalmente, destes palmos de terra
meu definitivo paradeiro”.


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